Por Diego Barreto
Quando se fala em Nova Economia, a inovação deixa de ser “opção”. Inovar está no DNA desses novos empreendedores e no cerne dessa tendência, com o máximo de empenho por soluções e negócios disruptivos e revolucionários. Mas como saber se um determinado negócio é de fato inovador, ou apenas parece ser?
Na transição da Velha Economia para a Nova Economia, sai de cena o modelo de negócio estático e antiquado, que depende de recursos naturais e commodities, e ganha espaço o negócio ligado à inovação contínua, sustentada por modelos de gestão ágeis, menos hierárquicos, com times diversos e voltado para a sustentabilidade. Ou seja, é impossível pensar em inovação sem ganho de agilidade e desburocratização. É preciso deixar de lado a atuação lenta, atrelada a inúmeros processos, das empresas tradicionais, e dar espaço à atuação mais livre, com menos amarras e mais ousada, adotada pelas startups e novas corporações.
Esses dois modelos de negócios são muito distintos. Enquanto o primeiro é focado na segurança e na manutenção do status quo, o segundo investe na inovação – seja em produtos, gestão, tecnologia e processos, tudo visando ganhos de produtividade e maior agilidade. Na Nova Economia, é preciso estar sempre em busca de novas formas de atuar, novas tecnologias e ideias, sem medo de errar. O erro faz parte do processo de maturação do negócio, e não deve ser “evitado a qualquer custo”. Sem errar não se consegue chegar a um modelo ágil e pioneiro.
Apostando em novas soluções e no “fazer diferente”, aumenta-se a eficiência e responde-se melhor às demandas do consumidor, dessa forma dando espaço para o ciclo virtuoso de competição, que é a principal premissa da Nova Economia. Quando a concorrência torna-se mais acirrada, fazendo com que as empresas corram o risco de perder espaço no mercado, os gestores são fortemente incentivados a buscar maneiras criativas de aumentar o valor do que oferecem aos clientes. Nesse momento, é preciso escolher, de fato, entre “inovar ou morrer”.
Para ajudar nesse processo, listei 4 pontos de um “checklist” do negócio inovador:
Criar conflito criativo é necessário
Embora a inovação seja “mandatória” na Nova Economia, por si só, não cria sozinha um negócio disruptivo. É necessário atrelar a busca incessante por inovação aos investimentos em tecnologia e à agilidade. Empresas inovadoras precisam de excelência operacional e uma base gerencial sólida – mas flexível.
São as chamadas empresas ambidestras, que convivem com a tensão entre investir em um produto disruptivo e resolver os problemas urgentes de seu negócio principal. Isso cria um estado de conflito criativo permanente que permite que a inovação aconteça. As empresas da Nova Economia também criam e adotam processos, mas, quando percebem que determinada forma de atuar torna-se lenta ou falha, não resistem em ir em busca de novas maneiras de fazer as coisas. Esse é o “x da questão”, a grande diferença entre a Velha Economia e a Nova Economia.
Compartilhar informações é fundamental
Outro ponto a ser avaliado para saber se um negócio é inovador ou não é o quanto as informações são compartilhadas. A Nova Economia é movida pela meritocracia de ideias e, para que a melhor ideia vença, é preciso que haja sucessivas discussões em busca das melhores soluções. E isso só é possível se houver transparência, e se todos os envolvidos estiverem a par do andamento do projeto.
De acordo com estudo do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral, um negócio instalado em uma aceleradora, incubadora ou parque tecnológico tem maiores chances de prosperar que outro sediado em um escritório próprio ou alugado. O grande “segredo” do sucesso, segundo a pesquisa, é o compartilhamento de informações e de experiências entre as pessoas de diferentes backgrounds, formações e em diferentes estágios de desenvolvimento profissional.
Além disso, a transparência também é fundamental para garantir a agilidade na operação, pois o tempo é um fator crucial para os negócios na Nova Economia.
Vantagem competitiva leva ao sucesso
Um negócio inovador também não se sustenta se não tiver uma vantagem competitiva. É esse fator que permite que a empresa não precise ficar “correndo atrás do próprio rabo” ou “andando em círculos”, ou seja, não precise alterar sua estratégia, seu negócio, o tempo todo, buscando novas opções para o sucesso.
Quando se tem esse ativo, a empresa pode investir sua energia na busca pela próxima vantagem competitiva, que irá novamente impulsioná-la mais adiante. Sempre gosto de citar como exemplo a Netflix, uma das mais bem-sucedidas empresas globais da Nova Economia. Quando foi competir com a Blockbuster no aluguel de filmes, a empresa criou a assinatura e entrega de DVDs em domicílio. Quando a concorrência começou a se organizar para fazer a mesma coisa, a Netflix passou a entregar conteúdo em streaming. Todo o mundo correu atrás, e a empresa teve tempo suficiente para ser a líder, usufruindo das vantagens competitivas que construiu ao longo dos anos e dando um passo adiante: lançando suas próprias produções na plataforma. Com isso, o cliente não precisava mais ir até a locadora, e pode ganhar acesso imediato para assistir o que quiser, além de contar com conteúdo exclusivo e de qualidade. Nos três momentos, a Netflix enfrentou pesada concorrência, mas continuou a cobrar um valor justo por seu serviço. Isso preserva o ciclo virtuoso: cobrando um preço justo, a empresa democratiza o acesso ao serviço, agrega mais clientes, e então tem mais recursos para continuar a apostar em inovação e planejar a próxima vantagem competitiva.
Ousadia é o caminho
Se eu fosse escolher uma única palavra para me referir às empresas da Nova Economia, essa palavra seria ousadia. Antes de qualquer outra coisa, para alcançar o sucesso nessa nova realidade econômica, é preciso ousar, não ter medo de apontar novos caminhos, de se arriscar. É necessário ter sempre em mente que risco, falha, transparência radical, inovação e sucesso caminham juntos. Ou seja, sem um desses fatores, é muito difícil conseguir o outro. Não é viável querer inovar sem falhar ou correr riscos, ou ter um negócio bem-sucedido sem ser transparente.
A inovação pressupõe o risco, e acarreta também abrir mão de algo hoje para tentar ter algo amanhã. É preciso ter coragem para se desfazer da segurança do presente para vislumbrar o futuro que se aspira: o de negócios disruptivos e que façam a diferença para a sociedade, beneficiando a todos e apresentando soluções que funcionam. Na Nova Economia, a “conta em dólares” chega sempre no final.
* Diego Barreto é Vice-Presidente de Finanças e Estratégia do iFood e professor de estratégia, negócios digitais e nova economia. É mestre em administração pelo International Institute for Management Development (IMD Business School), com passagens acadêmicas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e Fundação Instituto de Administração (FIA). Mentor Endeavor e da 500 Startups (Vale do Silício). É autor do livro NOVA ECONOMIA – Entenda por que o perfil empreendedor está engolindo o empresário tradicional brasileiro.